segunda-feira, 25 de março de 2013

Dois no trânsito contra o lixo da cidade


By Antonio Gomes 


Uma ladeira estreita de passar um veículo, noite chuvosa e fria! À nossa frente, um caminhão de coleta de lixo parado não deixava espaço nem para uma mosca. Nós, eu no meu carro e o taxista logo à frente, esperávamos o trabalho dos coletores. 

Estávamos impressionados! Cada coletor fazia serviço de dois homens, - ou de dez? - colhendo aos montes sacos de lixo de um condomínio aqui, depois de outro ali e logo corriam mais à frente. Outros tantos sacos das residências ao lado. Na sequência, colhiam de um outro prédio... E assim iam, muito dedicados, ensopados e dando duro. Mas o caminhão, parado, não rendia centímetro no percurso. Impedindo passagem... Fazer o quê!

O taxista parecia cantarolar algo animadamente, paciente. Eu, bem cansado – tive um dia corrido pacas - também esperava, na minha. Atrás de nós a fila de carros aumentava. 

De repente, uma buzina desrespeitou o silêncio!

Eu e o taxista nos fizemos de surdos – ao menos eu me fiz – sabe-se lá se alguém teria esbarrado no botão. Era evidente que o esforço daqueles trabalhadores subindo ladeira, debaixo de chuva, naquela rapidez! Era algo a ser admirado qual um concerto de Mozart: em respeitoso silêncio!

Mas nem tão de repente, nem casual, ouvimos outra buzina...

E os coletores voavam pelas calçadas cobertas de imundos sacos pretos, jogando o que podiam dentro do caminhão, quase se jogando sobre os restos da cidade, que, lógico, não podia parar um minuto...Corriam desesperados, mas alguns até sorriam durante a labuta. Impressionante!

Mais uma buzina e pronto! O taxista - um brutamontes de sensatez - colocou o rosto pela janela e olhou para trás impaciente. Olhei para ele, também inconformado. Afinamos-nos 

- Quem diabos teria tido a coragem de buzinar contra aqueles caras? – Adivinhei seu pensamento.

Outra buzina foi o suficiente!

O taxista, um senhor mais gordo, esforçava-se por sair do táxi... Quando percebi, eu também estava abrindo a porta do meu carro e, do alto dos meus um metro e sessenta e poucos de imponência masculina, ao lado da porta, gritei pro mundo!

- Olha a falta de respeito com o trabalhador! Ou alguém aí tá a fim de ajudar a pegar lixo?

Percebi que funcionou, aliás, mais do que esperava, quando, olhando para trás, descobri o motivo! O taxista fazia às vezes de um guarda costas – e de respeito! – e ele emendou:

- Seu bando de lixo!

Não podia ser melhor! Chovia forte. Mas, naquele instante, qualquer um conseguiria ouvir cada gota de chuva que caia ao chão. A cidade literalmente se calou! 

De repente, intuí exatamente onde estava a imundice dessa cidade e não era entre seus coletores e nem dentro dos sacos pretos que carregavam; nem mesmo nos aterros sanitários. O lixo maior dessa urgente capital está na prevalência daquilo que é particular sobre o que é de interesse público... A mais abjeta falta de respeito à coisa pública era, e ainda é, o que mais fede, nessa, que é uma das maiores urbes da América neo libertina!

2 comentários:

  1. Que texto! Parabéns ao seu amigo e a vc, por compartilhar. Abs

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  2. Obrigado, Roniel, ficou muito bonita a edição!

    Parabéns por seu Blog, vou fuçá-lo.

    Absssss

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