sábado, 26 de outubro de 2013

Acolher pra transformar

Tempos atrás assisti a um documentário no qual um cara fazia uma comparação entre o jogo de tênis e o frescobol. Chamava a atenção para que percebêssemos que no jogo de tênis a intenção é provocar o erro do adversário, enquanto no frescobol a intenção é possibilitar o acerto do seu parceiro de partida de modo que ambos mantenham a bola no ar pelo maior tempo possível. Brilhante!

No entanto, apesar das diferenças, tênis e frescobol têm uma característica comum: são dois esportes de reação. Com exceção do saque, todas as outras interações são reações à reação do outro. Não há recepção, só devolução. Não há acolhimento.

Essa reflexão me fez começar a observar os esportes com olhos mais apreciativos e nessa observação acho que encontrei um que pra mim é uma metáfora perfeita da vida, o vôlei.

Diferente do frescobol e do tênis, o vôlei não tem nada de reação. É pura ação. A bola vem do outro lado da quadra e você não reage, acolhe. Quanto melhor for sua recepção, melhor a bola será trabalhada e preparada para ser devolvida à quadra oposta. Mais que isso, se em vez de se preparar pra receber a cortada que vem da outra quadra, você achar que não merece aquilo, a bola será perdida. Não adianta fugir, não adianta fazer manha, não adianta chorar. Ou você honra o que a vida te manda ou não vai conseguir transformar. A transformação começa no acolhimento e quanto melhor você acolhe, melhor será sua capacidade de ação posterior. Além disso, no vôlei e na vida, o apoio de outros é fundamental para transformar o negativo em positivo. Sozinho fica quase impossível não entrar num ciclo de reações sem fim.
   

Outro aprendizado fundamental é que se às vezes pra colocar a bola no chão é preciso força, em outras basta jeito. Usar força quando o bloqueio é alto, fará a bola voltar pra sua quadra.

Por fim, apesar de acreditar no poder do acolhimento, esta postura receptiva não deve ser uma regra. Se você tem certeza que aquela bola não é pra você, basta subir à rede, saltar alto, bloquear e soltar um alto e sonoro:

- AQUI NÃO!!!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Idiotas


Tem que ser muito idiota pra fazer testes em animais;
Tem que ser muito idiota pra não respeitar as diferenças;
Tem que ser muito idiota pra agredir alguém;
Tem que ser muito idiota pra pegar o que não é seu;
Tem que ser muito idiota pra falar o que não sabe;
Tem que ser muito idiota pra cuidar da vida dos outros;
Tem que ser muito idiota pra agir com desonestidade;
Tem que ser muito idiota pra pensar só em si mesmo;
Tem que ser muito idiota pra não querer ser feliz;
Tem que ser muito idiota pra fazer quebra-quebra;
Tem que ser muito idiota pra usar produtos sem saber a origem e a composição;
Tem que ser muito idiota pra não se compadecer da ignorância alheia;
Tem que ser muito idiota pra achar que existe a turma do bem e a turma do mal;
Tem que ser muito idiota pra acusar sem considerar o contexto;
Tem que ser muito idiota pra odiar sem espelhar;
Tem que ser muito idiota pra não respeitar a dor do outro;
Tem que ser muito idiota pra achar que desonestidade tem tamanho;
Tem que ser muito idiota pra achar que pode salvar alguém;
Tem que ser muito idiota pra viver gananciosamente;
Tem que ser muito idiota pra acreditar que tudo se resolve pacificamente;
Tem que ser muito idiota pra destruir o planeta;
Tem que ser muito idiota pra comer carne;
Tem que ser muito idiota pra afirmar que vegetais não sentem dor;
Tem que ser muito idiota pra preferir plástico a vidro;
Tem que ser muito idiota pra usar produtos sintéticos;
Tem que ser muito idiota pra viver na grande metrópole;
Tem que ser muito idiota pra criar um mundo paralelo;
Tem que ser muito idiota pra assistir tanta TV;
Tem que ser muito idiota pra se achar melhor que os outros;
Tem que ser muito idiota pra levar a vida tão a sério;
Tem que ser muito idiota pra escrever este texto;

Tem que ser muito idiota pra achar que só os outros são idiotas. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Três Mil


Brian estava  contente com seu novo trabalho. Havia sido contratado há um mês para o cargo de Analista Comercial Pleno II e meio pela Lim Sêrt Company, com salário de três mil reais, seu maior salário até então.

Certo dia, enquanto tomava um café na copa, a auxiliar de limpeza Diana lhe perguntou se ele poderia ajudá-la a fazer seu imposto de renda, já que ela não sabia mexer direito no computador. Brian ficou surpreso:

- Imposto de renda? Posso... mas acho que você não precisa declarar.

- A menina do RH disse que eu preciso sim, porque tem um dinheiro lá para eu resi... restu... res... ah, pra eu pegar de volta.

- Desculpe-me pela pergunta Diana, mas quanto você ganha?

- Ganho três mil.

Brian engasgou com o café. Nem terminou a conversa com Diana e subiu, com o peito estufado, para conversar com o diretor.

- Doutor Severino, posso conversar com o senhor um minuto?

- Sim, sente-se.

- É que eu acabei de descobrir que a moça da limpeza ganha três mil.

- E?

- E eu também ganho três mil.

- E?

- E não me parece justo.


- Não estou entendendo Brian. Quando você se candidatou, disse que queria o cargo de Analista Comercial Pleno II e meio, por isso foi contratado para este cargo. Se você tem interesse no cargo da Diana, nós temos ainda uma vaga aberta para aquele cargo. Você pode fazer os testes e estando apto, dou preferência pela sua transferência em vez de contratarmos alguém de fora.

- Não doutor, não é isso. Posso te fazer uma pergunta?

- Já fez, mas pode fazer outra.

- Quanto o senhor ganha?

Severino pegou seu holerite e mostrou a Brian. Brian riu desconfiado:

- Está faltando um zero aqui, não está?

- Não Brian. Aqui todos ganhamos três mil.

- Mas e os sócios?

- Somos só dois sócios, o Cícero e eu. Ele também ocupa uma diretoria e também ganha três mil. Aqui ninguém ganha sem trabalhar.

- Mas o senhor acha justo isso? Vi que o senhor fez MBA fora do país. Acha justo ganhar o mesmo que a Diana?

- O que você estava fazendo em 2006, Brian?

- Eu era estagiário na Sotnec  Sies.

- Então, 2006 foi o ano que eu fiz meu MBA. Também foi o ano que você trabalhou como estagiário na Sotnec  Sies. Foi o ano em que Diana nem conseguiu trabalhar porque estava cuidando da mãe doente. Percebe que todos nós fizemos coisas em 2006? Percebe nossas escolhas de acordo com nossas oportunidades?

- Percebo, mas continuo achando tudo isso muito estranho. Meu salário então sempre será três mil?

- Não, não. Se conseguirmos aumentar nosso faturamento e consequentemente nossa lucratividade, ano que vem você terá um salário maior.

- Só eu?

- Sim. Só você. Só eu. Só a Diana. E só todos os funcionários.

- Mas isso é desestimulante. A vontade que eu tenho sabendo disso é de sentar na minha mesa e não fazer mais nada. Pra que vou me dedicar?

- Olha Brian, você nos procurou dizendo que sabia e que gostava de atuar nesta função. Você tem uma descrição de cargo muito clara, com todas as atividades a serem desempenhadas. Se você não as realizar, é muito simples, você será demitido.

- Mas o que move as pessoas a crescerem aqui dentro?

- Isso você pode perguntar a cada uma delas.

- Só mais uma pergunta: o motoboy também ganha três mil?

- Não. O motoboy ganha mil e quinhentos.

- Ahhhhhhhh... sabia que tinha alguma coisa estranha.

Severino sorriu:

- Mas ele só trabalha meio período. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

Dois no trânsito contra o lixo da cidade


By Antonio Gomes 


Uma ladeira estreita de passar um veículo, noite chuvosa e fria! À nossa frente, um caminhão de coleta de lixo parado não deixava espaço nem para uma mosca. Nós, eu no meu carro e o taxista logo à frente, esperávamos o trabalho dos coletores. 

Estávamos impressionados! Cada coletor fazia serviço de dois homens, - ou de dez? - colhendo aos montes sacos de lixo de um condomínio aqui, depois de outro ali e logo corriam mais à frente. Outros tantos sacos das residências ao lado. Na sequência, colhiam de um outro prédio... E assim iam, muito dedicados, ensopados e dando duro. Mas o caminhão, parado, não rendia centímetro no percurso. Impedindo passagem... Fazer o quê!

O taxista parecia cantarolar algo animadamente, paciente. Eu, bem cansado – tive um dia corrido pacas - também esperava, na minha. Atrás de nós a fila de carros aumentava. 

De repente, uma buzina desrespeitou o silêncio!

Eu e o taxista nos fizemos de surdos – ao menos eu me fiz – sabe-se lá se alguém teria esbarrado no botão. Era evidente que o esforço daqueles trabalhadores subindo ladeira, debaixo de chuva, naquela rapidez! Era algo a ser admirado qual um concerto de Mozart: em respeitoso silêncio!

Mas nem tão de repente, nem casual, ouvimos outra buzina...

E os coletores voavam pelas calçadas cobertas de imundos sacos pretos, jogando o que podiam dentro do caminhão, quase se jogando sobre os restos da cidade, que, lógico, não podia parar um minuto...Corriam desesperados, mas alguns até sorriam durante a labuta. Impressionante!

Mais uma buzina e pronto! O taxista - um brutamontes de sensatez - colocou o rosto pela janela e olhou para trás impaciente. Olhei para ele, também inconformado. Afinamos-nos 

- Quem diabos teria tido a coragem de buzinar contra aqueles caras? – Adivinhei seu pensamento.

Outra buzina foi o suficiente!

O taxista, um senhor mais gordo, esforçava-se por sair do táxi... Quando percebi, eu também estava abrindo a porta do meu carro e, do alto dos meus um metro e sessenta e poucos de imponência masculina, ao lado da porta, gritei pro mundo!

- Olha a falta de respeito com o trabalhador! Ou alguém aí tá a fim de ajudar a pegar lixo?

Percebi que funcionou, aliás, mais do que esperava, quando, olhando para trás, descobri o motivo! O taxista fazia às vezes de um guarda costas – e de respeito! – e ele emendou:

- Seu bando de lixo!

Não podia ser melhor! Chovia forte. Mas, naquele instante, qualquer um conseguiria ouvir cada gota de chuva que caia ao chão. A cidade literalmente se calou! 

De repente, intuí exatamente onde estava a imundice dessa cidade e não era entre seus coletores e nem dentro dos sacos pretos que carregavam; nem mesmo nos aterros sanitários. O lixo maior dessa urgente capital está na prevalência daquilo que é particular sobre o que é de interesse público... A mais abjeta falta de respeito à coisa pública era, e ainda é, o que mais fede, nessa, que é uma das maiores urbes da América neo libertina!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Não é brincando de boneca que teremos homens melhores


Hoje Leonardo Sakamoto, que eu admiro e respeito, publicou o texto abaixo:

Por uma sociedade melhor, meninos deveriam brincar de boneca e de casinha 


Embora eu concorde com várias das colocações, algumas me causaram muito incômodo.

Concordo que meninos não devem ser privados ou proibidos de brincar de boneca e de casinha, mas não concordo que isso tenha que ser estimulado. Muito menos em detrimento da brincadeira com espadas como ele cita no texto. Coloque a espada e a boneca em frente ao menino e veja o que ele escolhe. E não tem problema nenhum ele escolher a espada. É natural, é da essência, vem no DNA. Ninguém se torna violento por brincar de espada ou de luta e agressividade não é algo que precise ser programado no homem. A agressividade é fruto de uma energia muito forte, natural nos meninos, mal canalizada e mal empregada. Meninos, mais que meninas, precisam gastar energia, precisam de desafios, precisam correr, subir em árvore, nadar, lutar e extravasar. A falta desta explosão é um dos fatores que vai gerar homens agressivos na idade adulta e a falta de espaços e atividades para que esta energia seja gasta também pode fazer com que meninos se tornem agressivos. 


Se o menino quiser brincar de casinha, ótimo. Se quiser brincar de boneca, ótimo. Assim como toda e qualquer brincadeira dita ‘de menina’, mas vamos deixar ele escolher e vamos aprender a lidar com essa energia masculina sem nos assustarmos e sem ficarmos podando os meninos a cada vez que começam a duelar. Eu brinco de luta com meu sobrinho de 4 anos desde que ele tinha 2 (por iniciativa dele) e o menino é um doce e não levanta a mão para dar um tapa em ninguém, nem mesmo em mim depois que a brincadeira acaba. Talvez se ele fosse privado deste tipo de brincadeira, se disséssemos a ele que é feio, ele estaria acumulando toda essa energia para soltar sei lá onde e muito menos de que maneira.

Agora, sobre a divisão das tarefas no lar e a compreensão pelos meninos de que isso é também tarefa deles, isso será compreendido facilmente desde que ele veja pai e mãe em parceria tanto nos cuidados do lar quanto nos cuidados com a educação dele. É recebendo carinho e participando de uma família harmoniosa que este menino se tornará um homem carinhoso e sensível.

Mas aqui também é preciso ser cuidadoso porque senão a gente entra numa lógica de que todo mundo tem que fazer tudo e isso não funciona. Não consigo achar natural o homem de avental na beira da pia lavando louça enquanto a mulher leva o carro no borracheiro para consertar o pneu. Mas acho normal o homem lavar louça (sem avental) enquanto a mulher coloca a criança pra dormir.  Acho que a questão não está no lavar louça, passar roupa ou limpar o chão. A injustiça está sim no tempo que sobra para o ócio de cada um. O ócio precisa ser compartilhado. Direitos iguais para o ócio. O que não está certo é o homem deitado no sofá depois de um longo dia de trabalho enquanto a mulher se acaba nas tarefas domésticas, também depois de um longo dia de trabalho. Se cuidarmos para que homem e mulher sejam uma equipe que só descansa quando o jogo acabar e que o jogo acabe ao mesmo tempo para ambos, aí o troféu fica bem dividido. 

De volta à realidade




Nesta época do ano, em que muitas pessoas terminam o período de férias e retornam ao trabalho é comum ouvir a frase “de volta à realidade”.

Diante do lamento de tantas pessoas, me vêm algumas perguntas:

- o descanso não foi real?
- a praia não foi real?
- o ócio não foi real?
- a preguiça não foi real?
- acordar tarde não foi real?

E a grande pergunta que contém todas as anteriores:

O PRAZER NÃO É REAL?

De onde vem essa mania de achar que nosso destino é sofrer? Culpa do Freud?

Quando você considera que o sofrimento é a realidade, dificilmente conseguirá se livrar dele.

Se as pessoas dissessem: “de volta à chatice” eu compreenderia porque realmente o mundo está repleto de gente que tem uma vida chata e que só consegue se livrar da chatice nas férias.

Mas se o problema for esse, tem cura.

Vida chata dá pra mudar. 

Roniel Lopes

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bugs terapêuticos

By Roniel Lopes




  1. Um psicólogo disse que, para curar-se, seu paciente deveria parar de projetar. No dia seguinte o rapaz pediu demissão de seu cargo de projetista na Volkswagem e está desempregado até hoje.
  2. Um psicólogo Junguiano contou ao paciente que toda a raiva dele estava retida na sombra e agora ele só quer ficar no escuro.
  3. Uma psicanalista disse para o paciente com histórico edipiano que para amadurecer ele teria que matar a mãe. O enterro foi ontem à tarde.
  4. Após uma sessão de Reiki o terapeuta comentou que a paciente estava com pouca energia nas mãos. Ela foi pra casa e enfiou as duas mãos numa tomada de 220 volts.
  5. Uma terapeuta transpessoal falou que ia ajudar o paciente na expansão da consciência. Ele nunca mais voltou na sessão, com medo dela rachar sua cabeça.
  6. Uma psicóloga falou para a paciente espanhola tentar prestar bastante atenção nas ‘personas’. Agora a moça anda por aí encarando todo mundo.
  7. O terapeuta corporal falou para a paciente tentar respirar no abdómen. Ela foi pra casa e fez uma traqueostomia abdominal caseira.
  8. A terapeuta holística explicou que o floral ajuda a equilibrar as emoções e agora, sempre que a paciente chora, fica contando a quantidade de lágrimas que sai de cada olho.
  9. Durante uma Constelação Familiar o terapeuta falou que o grupo iria entrar no campo familiar. Um dos participantes imediatamente entregou-lhe as chaves da fazenda da família.
  10. Ao entender que o segredo da Acupuntura é colocar as agulhas nos principais meridianos, uma paciente pegou o mapa mundi, espetou o meridiano de Greenwich e agora espera ansiosamente que suas dores passem.
  11. Após se submeter a uma sessão de Cromoterapia e entender o poder das luzes coloridas, um paciente nunca mais desmontou sua árvore de natal.
  12. Ao final de uma sessão de Arteterapia, a terapeuta orientou o paciente a ir para a casa e tentar se colocar inteiro no papel. Ele acordou todo dolorido depois de passar a noite toda encolhido em cima de uma folha de flip chart.