Brian estava contente
com seu novo trabalho. Havia sido contratado há um mês para o cargo de Analista
Comercial Pleno II e meio pela Lim Sêrt Company, com salário de três mil reais,
seu maior salário até então.
Certo dia, enquanto tomava um café na copa, a auxiliar de
limpeza Diana lhe perguntou se ele poderia ajudá-la a fazer seu imposto de
renda, já que ela não sabia mexer direito no computador. Brian ficou surpreso:
- Imposto de renda? Posso... mas acho que você não precisa
declarar.
- A menina do RH disse que eu preciso sim, porque tem um
dinheiro lá para eu resi... restu... res... ah, pra eu pegar de volta.
- Desculpe-me pela pergunta Diana, mas quanto você ganha?
- Ganho três mil.
Brian engasgou com o café. Nem terminou a conversa com Diana
e subiu, com o peito estufado, para conversar com o diretor.
- Doutor Severino, posso conversar com o senhor um minuto?
- Sim, sente-se.
- É que eu acabei de descobrir que a moça da limpeza ganha
três mil.
- E?
- E eu também ganho três mil.
- E?
- E não me parece justo.
- Não estou entendendo Brian. Quando você se candidatou,
disse que queria o cargo de Analista Comercial Pleno II e meio, por isso foi
contratado para este cargo. Se você tem interesse no cargo da Diana, nós temos
ainda uma vaga aberta para aquele cargo. Você pode fazer os testes e estando
apto, dou preferência pela sua transferência em vez de contratarmos alguém de
fora.
- Não doutor, não é isso. Posso te fazer uma pergunta?
- Já fez, mas pode fazer outra.
- Quanto o senhor ganha?
Severino pegou seu holerite e mostrou a Brian. Brian riu
desconfiado:
- Está faltando um zero aqui, não está?
- Não Brian. Aqui todos ganhamos três mil.
- Mas e os sócios?
- Somos só dois sócios, o Cícero e eu. Ele também ocupa uma
diretoria e também ganha três mil. Aqui ninguém ganha sem trabalhar.
- Mas o senhor acha justo isso? Vi que o senhor fez MBA fora
do país. Acha justo ganhar o mesmo que a Diana?
- O que você estava fazendo em 2006, Brian?
- Eu era estagiário na Sotnec Sies.
- Então, 2006 foi o ano que eu fiz meu MBA. Também foi o ano
que você trabalhou como estagiário na Sotnec
Sies. Foi o ano em que Diana nem conseguiu trabalhar porque estava
cuidando da mãe doente. Percebe que todos nós fizemos coisas em 2006? Percebe
nossas escolhas de acordo com nossas oportunidades?
- Percebo, mas continuo achando tudo isso muito estranho.
Meu salário então sempre será três mil?
- Não, não. Se conseguirmos aumentar nosso faturamento e
consequentemente nossa lucratividade, ano que vem você terá um salário maior.
- Só eu?
- Sim. Só você. Só eu. Só a Diana. E só todos os funcionários.
- Mas isso é desestimulante. A vontade que eu tenho sabendo
disso é de sentar na minha mesa e não fazer mais nada. Pra que vou me dedicar?
- Olha Brian, você nos procurou dizendo que sabia e que
gostava de atuar nesta função. Você tem uma descrição de cargo muito clara, com
todas as atividades a serem desempenhadas. Se você não as realizar, é muito
simples, você será demitido.
- Mas o que move as pessoas a crescerem aqui dentro?
- Isso você pode perguntar a cada uma delas.
- Só mais uma pergunta: o motoboy também ganha três mil?
- Não. O motoboy ganha mil e quinhentos.
- Ahhhhhhhh... sabia que tinha alguma coisa estranha.
Severino sorriu:
- Mas ele só trabalha meio período.
Ótimo!!! Muito legal! Parece q na Noroega vivem situação semelhante a essa...li a respeito certa vez. Qto a narrativa está divertida, parabéns. abs
ResponderExcluir