Tempos atrás assisti a um documentário no qual um cara fazia
uma comparação entre o jogo de tênis e o frescobol. Chamava a atenção para que
percebêssemos que no jogo de tênis a intenção é provocar o erro do adversário,
enquanto no frescobol a intenção é possibilitar o acerto do seu parceiro de
partida de modo que ambos mantenham a bola no ar pelo maior tempo possível.
Brilhante!
No entanto, apesar das diferenças, tênis e frescobol têm uma
característica comum: são dois esportes de reação. Com exceção do saque, todas
as outras interações são reações à reação do outro. Não há recepção, só
devolução. Não há acolhimento.
Essa reflexão me fez começar a observar os esportes com
olhos mais apreciativos e nessa observação acho que encontrei um que pra mim é
uma metáfora perfeita da vida, o vôlei.
Diferente do frescobol e do tênis, o vôlei não tem nada de
reação. É pura ação. A bola vem do outro lado da quadra e você não reage,
acolhe. Quanto melhor for sua recepção, melhor a bola será trabalhada e
preparada para ser devolvida à quadra oposta. Mais que isso, se em vez de se
preparar pra receber a cortada que vem da outra quadra, você achar que não
merece aquilo, a bola será perdida. Não adianta fugir, não adianta fazer manha,
não adianta chorar. Ou você honra o que a vida te manda ou não vai conseguir
transformar. A transformação começa no acolhimento e quanto melhor você acolhe,
melhor será sua capacidade de ação posterior. Além disso, no vôlei e na vida, o
apoio de outros é fundamental para transformar o negativo em positivo. Sozinho
fica quase impossível não entrar num ciclo de reações sem fim.
Outro aprendizado fundamental é que se às vezes pra colocar
a bola no chão é preciso força, em outras basta jeito. Usar força quando o
bloqueio é alto, fará a bola voltar pra sua quadra.
Por fim, apesar de acreditar no poder do acolhimento, esta
postura receptiva não deve ser uma regra. Se você tem certeza que aquela bola
não é pra você, basta subir à rede, saltar alto, bloquear e soltar um alto e
sonoro:
- AQUI NÃO!!!