Hoje Leonardo Sakamoto, que eu admiro e respeito, publicou o
texto abaixo:
Por uma sociedade melhor, meninos deveriam brincar de boneca e de casinha
Embora eu concorde com várias das colocações, algumas me
causaram muito incômodo.
Concordo que meninos não devem
ser privados ou proibidos de brincar de boneca e de casinha, mas não concordo
que isso tenha que ser estimulado. Muito menos em detrimento da brincadeira com
espadas como ele cita no texto. Coloque a espada e a boneca em frente ao menino
e veja o que ele escolhe. E não tem problema nenhum ele escolher a espada. É natural,
é da essência, vem no DNA. Ninguém se torna violento por brincar de espada ou
de luta e agressividade não é algo que precise ser programado no homem. A
agressividade é fruto de uma energia muito forte, natural nos meninos, mal
canalizada e mal empregada. Meninos, mais que meninas, precisam gastar energia,
precisam de desafios, precisam correr, subir em árvore, nadar, lutar e
extravasar. A falta desta explosão é um dos fatores que vai gerar homens agressivos
na idade adulta e a falta de espaços e atividades para que esta energia seja
gasta também pode fazer com que meninos se tornem agressivos.
Se o menino quiser brincar de
casinha, ótimo. Se quiser brincar de boneca, ótimo. Assim como toda e qualquer
brincadeira dita ‘de menina’, mas vamos deixar ele escolher e vamos aprender a
lidar com essa energia masculina sem nos assustarmos e sem ficarmos podando os
meninos a cada vez que começam a duelar. Eu brinco de luta com meu sobrinho de
4 anos desde que ele tinha 2 (por iniciativa dele) e o menino é um doce e não
levanta a mão para dar um tapa em ninguém, nem mesmo em mim depois que a brincadeira
acaba. Talvez se ele fosse privado deste tipo de brincadeira, se disséssemos a
ele que é feio, ele estaria acumulando toda essa energia para soltar sei lá
onde e muito menos de que maneira.
Agora, sobre a divisão das
tarefas no lar e a compreensão pelos meninos de que isso é também tarefa deles,
isso será compreendido facilmente desde que ele veja pai e mãe em parceria
tanto nos cuidados do lar quanto nos cuidados com a educação dele. É recebendo carinho
e participando de uma família harmoniosa que este menino se tornará um homem
carinhoso e sensível.
Mas aqui também é preciso ser
cuidadoso porque senão a gente entra numa lógica de que todo mundo tem que
fazer tudo e isso não funciona. Não consigo achar natural o homem de avental na
beira da pia lavando louça enquanto a mulher leva o carro no borracheiro para
consertar o pneu. Mas acho normal o homem lavar louça (sem avental) enquanto a
mulher coloca a criança pra dormir. Acho
que a questão não está no lavar louça, passar roupa ou limpar o chão. A injustiça
está sim no tempo que sobra para o ócio de cada um. O ócio precisa ser
compartilhado. Direitos iguais para o ócio. O que não está certo é o homem
deitado no sofá depois de um longo dia de trabalho enquanto a mulher se acaba
nas tarefas domésticas, também depois de um longo dia de trabalho. Se cuidarmos
para que homem e mulher sejam uma equipe que só descansa quando o jogo acabar e
que o jogo acabe ao mesmo tempo para ambos, aí o troféu fica bem dividido.